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Tarcísio Marques o Diretor |
· Quando o professor Tarcísio Marques dos Reis descobriu um tumor na
próstata, há seis anos, ele tinha consciência de que não iria morrer. Sabia,
sim, que o câncer de próstata era uma das principais causas de morte entre
homens no País, mas estava convencido que aquele inesperado capítulo de sua
biografia não encerraria, tragicamente, a sua história. Fez a cirurgia
aconselhada pelo médico maringaense José Francisco da Silveira e mudou de vida.
Abandonou as carnes gordas, despediu-se das frituras e deixou de preparar os
fartos jantares em casa. A nova rotina alimentar deu espaço a verduras, frutas,
produtos orgânicos, carnes magras, refeições leves à noite. As mudanças no
cardápio marcavam o surgimento de novas posturas: um Tarcísio mais tolerante e
paciente, um homem que encara constantemente o passado buscando forças para
enfrentar os próximos dias. Em 2011, o câncer não o matou, mas o transformou radicalmente. Aquele era o
tempo das mudanças pessoais, de um Tarcísio que tentava controlar a
hiperatividade e buscava mais calma e serenidade. Era o tempo em que Paiçandu
vivia dias turbulentos, com figuras políticas ostentando altíssimos índices de
rejeição. "Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos": a
famosa frase de Dickens parecia ecoar pelas ruas de Paiçandu e, quando se deu
conta, Tarcísio, um novo homem, era sondado para disputar a prefeitura da
cidade. Os convites surgiram discretos. Um amigo, depois outro, mais outro, um papo nas
ruas e no corredor, todos passaram a pressioná-lo, gentilmente, com incentivos
e elogios. Formado em Estudos Sociais (1985) e Psicologia (1990) pela UEM,
Tarcísio também havia concluído, a distância, o curso de História. Tinha o
perfil ideal para virar político. Os amigos lembravam que o colégio estadual
Vercindes dos Reis, que ele que ajudou a fundar em 2000 e que leva o nome de
sua mãe, era um exemplo de administração bem-sucedida. Trabalhando por lá como
professor e diretor da instituição, ouvia com frequência o incentivo dos
amigos: "Quem cuida assim de um colégio, certamente fará uma ótima
administração na cidade". "Nunca esteve nos meus planos ser prefeito", revela Tarcísio, no
pátio do colégio, com uma voz serena. Ele tem uma boa voz, ideal para entoar
bossa nova, e talvez por isso seja um pouco difícil imaginá-lo furioso.
Tarcísio tem a calma que os grandes professores trazem na ponta da língua.
Gosta de falar com gestos tranquilos, com as mãos desenhando no ar garranchos
incompreensíveis. M as essa calma, ele diz, tem seu limite. "Se alguém não
cumpre o combinado, eu fico furioso", comenta. O prefeito de Paiçandu veste calça jeans azul escura, sapato preto e camisa
azul da Tommy Hilfiger com listras brancas. Um anel prateado, um relógio de
modelo esportivo e um óculos Ray-Ban de aros negros e ligeiramente espessos dão
a Tarcísio um ar urbano. Ele só troca esse estilo quando sai de segunda a
sexta, por volta das seis da manhã, para malhar na academia da cidade ou para
correr, três dias por semana, entre as ruas do bairro Maria Fernanda, em volta
da Praça da Matriz ou nas areias do complexo esportivo do Centro. Maringá
também está no roteiro esportivo de Tarcísio, que chega acorrer três voltas no
Parque do Ingá. Quando encarna o atleta, tira do armário o shorts preto, o
tênis laranja e as camisetas "dry fit" coloridas. "Liberar
endorfinas é ótimo. Correr faz com que eu me sinta muito bem." A paixão pelo atletismo é tanta que ele já encarou duas vezes a São Silvestre.
Em 2007 e 2008, concluiu as provas mais ou menos no mesmo tempo, 1h18,
alcançando a 500ª posição entre os atletas de sua faixa etária. "Sabe qual
é a pior parte dela? Todos dizem que é a subida da Brigadeiro Luís Antônio, mas
ruim mesmo é a largada. É muita gente, você não consegue imprimir velocidade, e
durante uns quinze minutos você é obrigado a caminhar o trajeto da prova." Tarcísio vive correndo, mas não é muito chegado em caminhadas. Embora more a um
quilômetro e meio de distância da prefeitura, ele faz questão de ir ao
trabalho, diariamente, a bordo do carro oficial, um Cruze, guiado por um motorista.
"Dentro do carro, já começo a trabalhar: troco mensagens pelo telefone,
dou ordens, não conseguiria fazer essas coisas se estivesse dirigindo",
diz, acrescentando que faz o trajeto com os vidros fumês escancarados.
"Gosto de dar um tchau para o pessoal, ficar mais perto do povo", diz
o prefeito. Tarcísio, que completa 57 anos daqui a dois meses, leva uma vida sem excessos.
Lembra com carinho das noitadas maringaenses no Clube da Esquina, no Stop Bar e
no Chaplin, bebericando cervejas de 600 ml, da porção de frango
"super-crocante" do Balaio de Frango, mas hoje já não sai no mesmo
ritmo dos trinta e poucos anos. "E o Car Wash, hein?! Que pena",
lamenta, cheio de elogios aos músicos e aos acepipes do bar maringaense. Se
quer ouvir MPB e curtir a noite paiçanduense, Tarcísio segue para a Lanchonete
Vasselai, onde músicos locais executam seu estilo favorito. "Sou fã de
Maria Bethânia, Gal, Caetano", diz. Nessas noites de canções, nada de
exageros: "Volto cedo. Gosto de dormir e acordar bem, de ter o corpo e a
mente sempre muito bem". Filho de agricultores, Tarcísio tem mais quatro irmãos. Quando pequenos,
corriam pelo Centro oferecendo alface, ervilha, quiabo, ovo caipira: tudo o que
vinha da chácara da família, então localizada a 1 km da cidade, acabava nos
almoços e jantares da população de Paiçandu. "A gente conseguia vender
tudo. Éramos bons. Acho que devíamos fazer uns R$ 50 por dia",
contabiliza, rindo das proezas comerciais dos tempos passados. Com exceção de Tarcísio, todos os outros irmãos continuaram no caminho do
comércio. O universo da política surgiu apenas para Tarcísio, num momento
conturbado e inesperado de sua vida, missão que ele parece cumprir com rigor e
determinação. Fonte Jornal o Diário
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Tarcísio Marques Prefeito |
Puxa saco.
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