Bairro não tem infraestrutura |
É difícil chegar ao casebre da
dona de casa Aparecida Mendes, em Paiçandu, no norte do Paraná. O carro se bate
todo, as rodas se enfiam em buracos enormes, a poeira vermelha sobe e sufoca.
Se já é difícil de carro, imagine empurrar cadeiras de rodas neste terreno
acidentado. Mãe de três adolescentes cadeirantes, Aparecida sequer tem veículo
para encarar a ladeira de terra, vizinha a uma linha de trem desativada e a penitenciária
estadual. Para levar os meninos a algum lugar, vai a pé mesmo, "no
braço". As cadeiras saem aos solavancos da casa e, com dona Aparecida na
condução, brigam com as muitas pedras esparramadas pelo caminho. Não é raro
quando as rodas enroscam e causam pequenos acidentes. E há um detalhe: quando
um dos filhos sai, o outro tem que ficar em casa. "Eles só conseguem sair
se eu paro tudo o que eu 'tô' fazendo e empurro a cadeira. Uma de cada vez,
claro. Não tem outro jeito, né? Quando temos que ir até o centro, eu subo tudo
isso no braço, na força mesmo. Impossível viver aqui!", diz a dona de
casa, com um sorriso sem graça. Pedro, de 13 anos, Anderson, 18, e Carlos, 19,
nasceram com a mesma doença nas pernas, conforme a mãe. Ela não sabe explicar o
que é, com detalhes técnicos. Diz apenas que é "um problema nos
nervos". Patrícia, de 16, é a única entre os filhos que consegue se
locomover normalmente. A família mora há cerca de quatro anos na casa, alugada
por R$ 380 mensais. É a penúltima antes do fim da rua e do começo de um matagal.
Para facilitar a saída dos rapazes, não há muros ou portão. Dentro, nenhuma
porta, com exceção do banheiro, divide um cômodo do outro. Quando chove,
ninguém sai. Quando o sol está muito forte, todo mundo sofre. A rotina dos três
irmãos se resume a ir para a escola - com o ônibus que os busca em casa - e
voltar. Para chegar ao centro, se necessário, é preciso enfrentar cerca de 400
metros de ladeira e barro. O pai dos jovens trabalha em uma empresa de limpeza,
em Maringá, cidade vizinha. Não tem condição de ajudar no transporte dos
meninos, porque só chega em casa para jantar e dormir, segundo dona Aparecida.
Dificuldade é visível |
“Meu trabalho é limpar a casa, fazer comida e empurrar meus
filhos" Aparecida Mendes, dona de casa”
"Meu trabalho é limpar a
casa, fazer a comida e empurrar meus filhos. É o que faço todo dia.
Infelizmente, esta foi a única casa que consegui. Estou tentando me mudar, mas
não consigo nem ter tempo para ir atrás de outra. Se é o que tem, temos que
viver assim". Sem opção de o que fazer, os meninos assistem a uma
televisão velha e jogam um videogame Playstation 1 praticamente o tempo todo.
"É muito ruim depender dos outros. E o pior é que a gente [os irmãos] nem
consegue se ajudar. Um asfalto mudaria nossa vida aqui", comenta Anderson.
Segundo prefeitura asfalto pode demorar
Não há previsão para que a rua
Otávio Pelissari, onde mora a família de dona Aparecida, seja asfaltada,
segundo o secretário de Obras de Paiçandu, Renato Bariani. Há dois projetos
prontos para a pavimentação, mas o começo das obras depende de liberação de
verba federal, diz ele. "Já temos os projetos e as certidões prontas. Mas,
não depende de nós. Temos que aguardar a liberação do dinheiro por parte do
governo federal. Acreditamos que, em 60 dias, já vamos receber uma confirmação
dessa verba. O processo licitatório deve começar lá para junho, julho. Agora,
quando vamos conseguir, de fato, começar o asfalto? Não dá para dizer",
afirma o secretário.
Ainda conforme Bariani, oito dos
67 bairros da cidade precisam atualmente de pavimentação parcial ou total –
entre eles o bairro onde a família de dona Aparecida mora. O valor previsto
para estas obras é de R$ 25 milhões, diz o secretário.
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